segunda-feira, 27 de outubro de 2008

:: O Art Nouveau de Victor Horta e Henry van de Velde

Ao estudar as contribuições de outras obras, artistas ou movimentos para o desenvolvimento criativo de Victor Horta e Henry Van de Velde, podemos perceber certa incompatibilidade quanto ao pensamento dos autores. Benévolo – em seu livro História da Arquitetura Moderna – cita as teses de Runskin e Morris como principal influência para as obras de Van de Velde, afirmando que “a influência da Inglaterra é reconhecida homogeneamente pelos teóricos da art nouveau” (pg 274) e diz ainda que Horta reconhecia a importância do contato com os pintores ingleses mas, todavia, não pretendia imitá-los, e sim “criar para si uma linguagem igualmente pessoal e livre de imitações” (pg 274).
Já Pevsner, em Os Pioneiros do Desenho Moderno, afirma que Horta sempre negou qualquer influência da Inglaterra, por mais que suas obras passassem impressão contrária. Sobre a importância da influência inglesa em Van de Velde, Pevsner concorda com Benevolo, dizendo que o artista “declarou ao autor ter visto as primeiras obras da maturidade de Toorop com o mais vivo prazer”(pg. 89).
Em contrapartida, Giedion deixa claro em seu livro Tempo, Espaço e Arquitetura não acreditar que as influências inglesas sejam de tão grande importância para o pensamento de ambos os artistas. De acordo com o autor, o paralelo entre Morris e Van de Velde “emana do fato de que a desordem introduzida na vida humana pela indústria se fez sentir na Inglaterra mais do que trinta anos antes do que no continente” (pg. 322), fazendo com que os dois artistas, influenciados pelas mesmas condições, tivessem as mesmas reações artísticas. Giedion aponta ainda Balat, um arquiteto belga, como sendo uma das figuras mais importantes para a orientação de Victor Horta.

Embora as influências externas possam ter contribuido para diferenciar o estilo de Horta e Van de Velde, existe uma outra discussão, um pouco mais ideológica, que os difere. As questões teóricas nas quais estavam envolvidos e os motivos que os impeliam são talvez as mais relevantes diferenças entre os artistas que, apesar de estarem inseridos no mesmo contexto de procura por um renascimento das artes, possuíam idéias distintas em relação à forma pela qual tal renascimento seria alcançado.
Enquanto Victor Horta pensou que problemática da arquitetura poderia ser resolvido de forma simples com a produção de um único estilo que fizesse um acordo imediato com o público e com o ambiente urbano de seu tempo, Henry Van de Velde procurou estabelecer novos fundamentos que permitiriam desenvolvimentos sucessivos de forma a propor uma renovação geral.
A falta de preocupação de Horta com as questões teóricas mostra a posição de limitação do artista, especialmente quando comparado ao pensamento de Van de Velde, que procurava não apenas a novidade – que é, por natureza, efêmera – mas conter os obstáculos do historicismo em uma estética baseada na razão e imune ao capricho.
Por isso, embora seja considerado um dos artistas mais refinados do movimento Art Nouveau, Victor Horta é caracterizado por Benevolo como "o mais parecido a um arquiteto do passado", devido ao seu pensamento antiquado e relação a essas questões. Já Henry Van de Velde, pelo contrário, é avaliado como um mestre da Art Nouveau não somente pelas suas obras, mas também devido à sua capacidade de animador e as energias que soube suscitar nos outros.
O fato de Horta ter recaído em um neoclassicismo ao perder contato com as novas tendências no pós-guerra evidencia seu compromisso com apenas uma fase, enquanto Van de Velde seguiu apoiando as gerações posteriores e aderindo a desenvolvimento sucessivos, até mesmo o movimento moderno.

Além das diferenças já evidenciadas, as obras de Horta e Van de Velde possuem também características formais distintas que identificam o estilo de ambos os artistas. Comparando a casa Tassel de Victor Horta (1892) e a casa de Henry Van de Velde em Uccle (1897), podemos dizer que enquanto a primeira se encaixava no padrão de uma casa tradicional de Bruxelas, a segunda fazia um forte contraste com as fachadas tradicionais devido à sua extrema simplicidade, apontando para o futuro de forma mais incisiva.
De fato, as obras de Horta procuravam convencer o observador pela sua coerência, e não estranhesa. Ele analisa a fundo a textura de seus edifícios, e é rigoroso em relação aos materiais, às soluções e aos detalhes para que cada elemento se ajuste perfeitamente ao outro. Por isso, as linhas de Victor Horta possuem uma graça luxuosa que não é encontrada na energia tensa das curvas mais simples e rigorosas da casa de Van de Velde em Uccle.
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